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Revista Concerto – Nossos Músicos

By 30 de agosto de 2004 abril 10th, 2020 No Comments

Rosana Lanzelotte, cravista

O sobrenome Lanzelotte não é dos mais comuns, mas não devem ter sido poucas as pessoas que, ao se depararem com o nome da cravista e o da PhD) em informática, juraram se tratar pessoas diferentes. Enganavam-se: a mesma Rosana Lanzelotte que possui pós-doutorado na área de bancos de dados é também uma das melhores cravistas do país, com especialização pelo Conservatório de Haia (Holanda). quatro CDs solo lançados e um currículo que ostenta apresentações em salas como o Wigmore Hall e. St. Martin-in-The-fields de Londres, o Palazzo Barberini de Roma e a Fundação Gulbenkian de Lisboa.


“.A princípio, a minha atividade como cravista não teve muita ligação com o meu lado de cientista. Passei a minha vida inteira com esses dois ‘chapéus’, e agora. que tenho conseguido juntar as duas competências no âmbito da universidade, estou vivendo um momento particularmente feliz”, conta.


Embora a sua atividade na universidade federal UniRio não envolva aulas práticas de música – orienta projetos que visam tornar mais efetiva a disponibilidade de acervos musicais na internet – Rosana é uma pessoa que reflete bastante sobre a situação do ensino de música no país, e se angustia. “Os jovens precisam ser expostos à música clássica. É, um preconceito enorme dizer que eles não gostam desse tipo de música”, afirma a criadora da série Música nas Igrejas, que há 12 anos leva concertos gratuitos a todos os bairros cariocas. “.A minha experiência com o Música nas Igrejas mostra que, se você der música clássica para as pessoas, elas vão gostar. E, muitas vezes, esse público é mais receptivo, se emociona mais do que o público tradicional das salas de concerto.”

Rosana é tão engajada na causa do ensino musical a ponto de doar um vultoso prêmio recebido este ano do Conselho Estadual de Cultura do Rio à Escola de Música Villa-Lobos. “Eu queria chamar a atenção para a escola, a única no Rio de Janeiro que oferece aulas de graça e a principal dica que eu posso dar às crianças que me procuram após os concertos querendo estudar música.”


Nascida em uma família bastante musical, ela foi exposta desde cedo à boa música. Começou com o piano ainda criança e o instrumento a acompanhou por toda a adolescência. Após o término do 2º grau, conciliou, sabe-se lá às custas de quantas horas de sono perdidas, uma graduação em Engenharia pela PUC-RJ com o bacharelado em Piano na UFRJ. Foi quando caiu de amores pela sonoridade e técnica tão peculiares do cravo e decidiu fazer seu mestrado no Conservatório de Haia, na classe do professor Jacques Ogg. “Não sei se fui eu que escolhi o cravo ou ele que me escolheu”, brinca. “Acho que fui conquistada pelo desafio. É tão difícil tornar o cravo um instrumento expressivo… Foi esse desafio que me atraiu.”


Preparando-se para lançar seu quinto CD, a intérprete dá mostras de que a paixão pelo instrumento não arrefeceu. “Quero tocar cravo até o final da minha vida, e tenho um monte de projetos na minha cabeça. Sou uma grande inventara de projetos!”, diz a artista, envolvida em trabalhos que vão da música de Sigismund Neukomm a autores brasileiros do século XX, passando pelo compositor contemporâneo suíço Tomas Kessler, com quem colabora regularmente.

Por Leandro Valverdes