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O Globo – Segundo Caderno

By 9 de Maio de 2004 abril 10th, 2020 No Comments

Sempre que um olhar inquisitivo desafia Rosana Lanzelotte por ela ser cravista, a carioca de fala desembaraçada diz: – Eu não escolhi o cravo, foi ele quem me escolheu.

Esse caso de amor já faz décadas. É dos anos 70, quando Rosana, ainda estudante de piano na Escola de Música da UFRJ, ficou frente a frente com um cravo na Pra Arte, escola e espécie de ponto de encontro de tudo que era músico naquela época. Bastou teclar uma vez nas teclas para que nunca mais deixasse o som peculiarmente metálico e seco de lado.

Se durante muitos anos Rosana chegou até a equilibrar a música com a carreira de pesquisadora e estudiosa de informática (com direito até a PhD na França), às vezes pendendo mais para um do que para o outro lado, hoje ela conseguiu unir tudo num único pacote, comandando pesquisas na pós-graduação da faculdade de música da UniRio. Seu tempo agora é cada vez mais musical.

– Investi alto nos dois lados porque nunca tive a total certeza de que seria possível viver só do cravo, até que, nos anos .90, decidi me voltar mais para o instrumento e as coisas foram acontecendo. Até o mais difícil que era ter unia inserção acadêmica acabou surgindo na UniRio, onde trabalho com uni sistema de informações musicais para informatização de acervos – diz Rosana, que sobe à cena hoje, às 18h. na Sala Cecília Meireles, para, ao lado de seu mestre e amigo Jacques Ogg, apresentar um programa celebrando a família de Johann Sebastian Bach.

As coisas, como ela diz, continuam acontecendo. Mas tudo por sua obra e graça. Convidada pela prefeitura para fazer a curadoria da série Música nas Igrejas, há dez anos, ela não se contentou em apenas programar. Rosana fez da série um acontecimento com sofisticados toques internacionais, fechando parcerias – como com o Comitato Italiano di Musica – capazes de apresentar primeiras audições por aqui com intérpretes de fora de compositores de música antiga, da Zona Sul ao subúrbio.

– Através da prefeitura, abrimos o leque e descobrimos um público que, apesar de estar fora do circuito de concerto e muito receptivo – diz Rosana, que também não se furta de uma atuação mais política na música. – No ano passado, frequentei o Fórum de Música semanalmente para lembrar que a música clássica também existe, mas nada aconteceu. Propusemos à Funarte a volta de um circuito de concertos eruditos pelo Brasil e até agora nada.

Mas, no que diz respeito à sua própria carreira, Rosana vai muito bem. Já lançou três discos (de Bach ao repertório brasileiro) e em breve terá mais um (com obras portuguesas). Volta e meia seu nome também pode ser visto em prestigiosas salas de concerto dos Estados Unidos e da Europa. Este ano, por exemplo, ela estará na Alemanha e na França. Não raro, Rosana está ao lado do amigo Ogg, com quem toca hoje no Rio.

– Preparamos um programa com música deliciosa para ouvir e para tocar – promete Ogg, que junto com a amiga montou um programa com peças de Bach e de seus filhos Carl Philipp e Wilhelm.