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O Globo – Opinião

By 29 de Maio de 2016 abril 13th, 2020 No Comments

O conde que embarcou o Brasil no mundo civilizado

O Brasil deixou de ser uma colônia em consequência do projeto arquitetado por um luso-brasileiro quase esquecido dos dois lados do oceano: Antonio de Araújo e Azevedo, o Conde da Barca, falecido há exatos 200 anos.

Após ter comprado a neutralidade junto aos franceses, o que evitou a devastação de Portugal em tempos napoleônicos, foi ele quem organizou a vinda da corte para o Brasil, para impedir que o Regente D. João perdesse a coroa. Trouxe consigo os tipos e prelos com que se fundou a Impressão Régia, no subsolo de sua casa, situada à Rua do Passeio. Trouxe ainda a coleção de plantas – a “hortus araujensis” – que inspirou a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Era homem ilustre, que se correspondia, entre outros, com Thomas Jefferson, seu “grande e bom amigo”, na época Presidente dos Estados Unidos, a quem endereça carta em maio de 1808 para contar sobre o sucesso do translado da corte.

Napoleão derrotado, as “grandes potências” no Congresso de Viena redefinem os novos contornos do mundo. Inicialmente, Portugal não tinha assento à mesa de negociações, o que foi prontamente corrigido por Azevedo, alegando que estava entre os países que haviam assinado o Tratado de Paris.

Como seu soberano, Azevedo amava o Brasil e não desejava voltar a Portugal. Ao final do Congresso, em dezembro de 1815, imaginou, em tratativas com outro ilustre diplomata, o Príncipe de Talleyrand, a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, após o que recebeu de D. João o título de Conde da Barca.

Sucederam-se duas providências para sedimentar em 1816 o novo reino. Era importante aliar-se a uma grande potência europeia, por exemplo a Áustria, e trazer da Europa artistas para dar lustro à nova corte. O noivado de D. Pedro e Leopoldina aproxima o Brasil do mundo civilizado, enquanto a Missão Artística importada da França tinha como objetivo a fundação da Academia de Artes e Ciências.

“Temos a esperança de fundar um novo império neste Novo Mundo, e você terá grande interesse em ser testemunha deste período de desenvolvimento.”

O único músico da Missão, Sigismund Neukomm (1778 – 1858), foi assim convencido pelo Conde da Barca a vir para o Brasil em 1816. Enquanto Debret pintava os índios e africanos tocando tambores e berimbaus, Neukomm misturava valsas e lundus e anotava modinhas que ouvia nas ruas.

Tornaram-se grandes amigos e Neukomm estava ao seu lado, quando o Conde expirou, em junho de 1817. Dedicou-lhe, então, uma Marcha Fúnebre, uma das únicas homenagens recebidas pelo homem que elevou o Brasil a nação.

Rosana Lanzelotte