Sob os braços do Cristo, num estúdio todo branco, a cravista Rosana Lanzelotte ensaia no cravo decorado com pintura assinada pela francesa Dominique Jardy e inspirada na “Lagoa Rodrigo de Freitas” de Nicola Facchinetti. Ultimamente ela tem tocado músicas inéditas do austríaco Sigismund Neukomm (1778-1858) resultado de uma longa pesquisa que fez em Paris e que a permitiu resgatar o repertório do compositor, que estava um pouco esquecido no Brasil.
Rosana, que também é produtora cultural, se apresentou recentemente na Salle Gaveau, em Paris, e na Fundação Guibenkian, em Lisboa, para lançar o CD “Neukomm no Brasil” . Seu próximo projeto é criar o primeiro portal de escuta guiada voltado para o repertório brasileiro, o Musica Brasilis, que entra no ar em abril.
Há 15 anos, Rosana criou o Projeto Música nas Igrejas. A próxima edição começa no dia 1º de abril com uma apresentação de canto gregoriano do grupo Bene+Dictus, na Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. O principal homenageado será o compositor Franz Joseph Haydn, pelos 200 anos de sua morte. Em comemoração do ano da França no Brasil, haverá um recital do cravista francês Olivier Baumont com obras de compositores atuantes nas cortes de Luis XIV, Luis XV e Luis XVI.
Por conta desse e outros projetos, Rosana é reconhecida como uma das responsáveis no Brasil por ampliar o público de cravo e resgatar repertórios de autores importantes em suas épocas, mas que ficaram esquecidos, como o português Pedro Antonio Avondano (1714-1782) e o próprio Neukomm, responsável pela criação, no Brasil, das músicas de câmara, para piano, bandas e sinfônica.
Seu próximo disco, focado na obra de Ernesto Nazareth, permitirá a edição digital da obra do compositor e a realização de oficinas virtuais. A idéia surgiu por causa da dificuldade de acesso dos estudantes de música à formação especializada, muitas vezes inexistente em suas cidades.
por Melina Dalboni, fotos de Monica Imbuzeiro
