Rosana Lanzelotte, cravista
O sobrenome Lanzelotte não é dos mais comuns, mas não devem
ter sido poucas as pessoas que, ao se depararem com o nome da cravista e o da
PhD) em informática, juraram se tratar pessoas diferentes. Enganavam-se:
a mesma Rosana Lanzelotte que possui pós-doutorado na área de bancos
de dados é também uma das melhores cravistas do país, com
especialização pelo Conservatório de Haia (Holanda). quatro
CDs solo lançados e um currículo que ostenta apresentações
em salas como o Wigmore Hall e. St. Martin-in-The-fields de Londres, o Palazzo
Barberini de Roma e a Fundação Gulbenkian de Lisboa.
".A princípio, a minha atividade como cravista não teve muita
ligação com o meu lado de cientista. Passei a minha vida inteira
com esses dois 'chapéus', e agora. que tenho conseguido juntar as duas
competências no âmbito da universidade, estou vivendo um momento
particularmente feliz", conta.
Embora a sua atividade na universidade federal UniRio não envolva aulas
práticas de música - orienta projetos que visam tornar mais efetiva
a disponibilidade de acervos musicais na internet - Rosana é uma pessoa
que reflete bastante sobre a situação do ensino de música
no país, e se angustia. "Os jovens precisam ser expostos à
música clássica. É, um preconceito enorme dizer que eles
não gostam desse tipo de música", afirma a criadora da série
Música nas Igrejas, que há 12 anos leva concertos gratuitos a
todos os bairros cariocas. ".A minha experiência com o Música
nas Igrejas mostra que, se você der música clássica para
as pessoas, elas vão gostar. E, muitas vezes, esse público é
mais receptivo, se emociona mais do que o público tradicional das salas
de concerto."
Rosana é tão engajada na causa do ensino musical a ponto de doar um vultoso prêmio recebido este ano do Conselho Estadual de Cultura do Rio à Escola de Música Villa-Lobos. "Eu queria chamar a atenção para a escola, a única no Rio de Janeiro que oferece aulas de graça e a principal dica que eu posso dar às crianças que me procuram após os concertos querendo estudar música."
Nascida em uma família bastante musical, ela foi exposta desde cedo à
boa música. Começou com o piano ainda criança e o instrumento
a acompanhou por toda a adolescência. Após o término do
2º grau, conciliou, sabe-se lá às custas de quantas horas
de sono perdidas, uma graduação em Engenharia pela PUC-RJ com
o bacharelado em Piano na UFRJ. Foi quando caiu de amores pela sonoridade e
técnica tão peculiares do cravo e decidiu fazer seu mestrado no
Conservatório de Haia, na classe do professor Jacques Ogg. "Não
sei se fui eu que escolhi o cravo ou ele que me escolheu", brinca. "Acho
que fui conquistada pelo desafio. É tão difícil tornar
o cravo um instrumento expressivo... Foi esse desafio que me atraiu."
Preparando-se para lançar seu quinto CD, a intérprete dá
mostras de que a paixão pelo instrumento não arrefeceu. "Quero
tocar cravo até o final da minha vida, e tenho um monte de projetos na
minha cabeça. Sou uma grande inventara de projetos!", diz a artista,
envolvida em trabalhos que vão da música de Sigismund Neukomm
a autores brasileiros do século XX, passando pelo compositor contemporâneo
suíço Tomas Kessler, com quem colabora regularmente.
Por Leandro Valverdes